domingo, 19 de maio de 2013

Presos ao Anzol

Rumo a uma pescaria onde a principal isca é você. Assim podemos considerar as reuniões mal planejadas e conduzidas, pois elas são como um rio de águas turvas repletas de surpresas, onde a falta de organização torna-se uma devoradora da produtividade, consumindo o tempo das pessoas sem que isto traga resultados concretos a despeito do nível que ocupam.

O problema é que elas progridem em escala geométrica, enquanto a capacidade de acompanha-las é mantida em escala aritmética, originando um clima de insatisfação, ineficiência e ineficácia. A ausência de pauta, controle do tempo e moderador, contribui para a ocorrência de intermináveis reuniões, sem hora para começar e terminar, alimentando-se do horário de almoço, jantar e lazer, com impactos diretos na saúde física e mental.

Ao término de cada uma, perguntam o porquê foram convocadas ou convocaram a reunião, demonstrando que estas pessoas não agregam valor ou não tem nada a oferecer, inclusive tornando-a muito mais improdutiva, chata e cansativa.

As reuniões que constrangem, procuram culpados, exercem pressão desnecessária e transmitem ameaças implícitas, são uma isca indigesta para estimular a participação, em especial quando elas adotam um tom escravocrata, no sentido de bater e criticar a tudo e a todos, rememorando por diversas vezes os erros cometidos.

Ao invés de se ater ao campo das ideias, os condutores, eternos pessimistas, destilam suas críticas às pessoas, falando continuamente em choque de gestão, mudança de rumo, virada de página e quebra de paradigmas, uma postura que além de não agregar valor, desvirtua o verdadeiro caráter da reunião: a busca pela solução conjunta.

Desta maneira, elas são uma praga tão resistente e adaptável, que sua multiplicação ocorre por videoconferência, teleconferência, ou seja, não há limite para se inventar, alimentar e sustentar inadequadamente esta ferramenta de gestão.

É um círculo vicioso, sem resultados concretos e contínuos, muito anexo, pouco nexo, muita divagação, pouca ação, como uma nau a deriva que segue ao embalo da maré, em um lento, tedioso e improdutivo vai e vem, trazendo resultados frustrantes para quem conduz, participa ou assiste o enrolar e não o desenrolar dos fatos.

Nas convocações, os conversadores e despreocupados chegam primeiro, não devido ao caráter da pontualidade, mas sim para encontrar um lugar discreto no ambiente, ou seja, na parte traseira da sala, para falar mal da empresa, fofocar e criticar a própria reunião, conduzindo conversas paralelas ou euclidianas, que sob a ótica da geometria espacial, nunca cruzarão entre si e muito menos com os propósitos que estão sendo abordados e tratados em conjunto.

Nesta desorganização, entram e saem da sala, levantam para tomar café, água, refrigerante e ir ao banheiro. Não utilizam o modo "vibracall" dos seus telefones e smartphones, mas vibram quando eles tocam músicas ou melodias estridentes e irritantes, cujo barulho é proporcional à falta de educação. Não satisfeitos leem de forma discreta revistas semanais, rabiscam qualquer desenho e talvez façam até caricatura do chefe, mas não anotam absolutamente nada do que está sendo discutido.

Risco e rabisco, nada muito rico, ao contrário uma tremenda pobreza de espírito coletiva e corporativa, em uma agenda sem agenda. O fim do limite ao respeito está próximo quando até mesmo aqueles que ocupam cargos estratégicos bocejam, cochilam, fisgam e pescam literalmente piaba e lambari, fazendo seus corpos curvarem de forma repetitiva na cadeira, como uma vara de pescar, expondo os dorminhocos ao burburinho e as chacotas disfarçadas.

Este comportamento de utilizar reuniões desalinhadas, como regras, pode denotar a falta de um planejamento estratégico, que transformará a empresa e os profissionais em uma isca perfeita, presa ao anzol que poderá ser engolido pela primeira crise financeira.

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