terça-feira, 17 de setembro de 2013

Jardim do Éden

Adão e Eva eram dois líderes que trabalhavam em um empreendimento denominado Jardim do Éden, o qual pertencia a um único acionista. O foco do negócio, a agropecuária, abrangia a criação de animais e plantas de forma sustentável. O descanso semanal remunerado e o intervalo intrajornada eram respeitados, bem como não havia assédio moral, trabalho degradante ou análogo à escravidão, descumprimentos legais que são comuns em pleno século vinte e um. 

Altos executivos, eles recebiam uma série de benefícios tais como plano de saúde, alimentação, educação e participação nos resultados, além de um generoso salário pela vida eterna. Por meio do trabalho possuíam satisfação, qualidade de vida, reconhecimento e além disto, ocupavam cargos de confiança, que lhes permitia o acesso a informações privilegiadas, compatíveis com seus níveis hierárquicos.  

No entanto, a inveja fez com que eles quebrassem o código de ética e valores, ao se apropriarem da fonte do conhecimento que apenas o acionista poderia ter acesso. A maçã foi mordida, estragando o melhor produto do empreendimento, o qual estava reservado a clientes fiéis e incorruptíveis.  Cometeram um pecado muito comum nas corporações, ignorando a honestidade, integridade e ética. 

Sucedeu-se que ninguém teve a coragem de assumir sua responsabilidade, especialmente o líder Adão. Ele não reconheceu sua falha e usou de subterfúgios para culpar Eva e esta por sua vez despejou a culpa em outro ser que envenenava os relacionamentos com sua língua ardilosa. Cometer falhas e erros é ato corriqueiro e inerente a qualquer profissional, porém, negar e esquivar-se da verdade foi um erro mortal, que os deixou totalmente nus de vergonha.  

Como toda causa gera uma consequência, foram demitidos da melhor empresa do universo. Por ser onipotente, o acionista os realocou em outra corporação do grupo, com a diferença de que passaram a ser tratados como empregados normais, labutando arduamente de sol a sol, para transformar suor em força de trabalho. A partir desta atitude o acionista não mais se relacionou diretamente com os seus dois colaboradores.  

Neste intervalo, tiveram dois filhos, Abel, pastor de ovelhas e Caim, agricultor, herdando dos pais a vocação para atuar no agronegócio, que já sustentava a balança comercial e ocupava um lugar de destaque no mercado. Abel liderava um rebanho de ovinos e sua maior preocupação era cuidar das ovelhas perdidas ou desgarradas. Caim por sua vez, lavrava e cultivava a terra. Atividades distintas em prol da segurança alimentar, física, mental e espiritual.

O principal objetivo era por meio de suas obras oferecerem sacrifícios, capazes de gerar resultados, concedendo ao trabalho um propósito, de modo que ao final da jornada pudessem dizer que haviam vivido intensamente aquele dia. Porém, isto não aconteceu de forma completa e plena, porque a ação do envolvimento prejudicou a ação do comprometimento.  

O acionista por também ser onisciente, percebeu que o produto oferecido por Caim era de fora para dentro, adesão externa e aceitação parcial a obediência, caracterizada pelo sim senhor pela frente e não senhor por trás. Preocupou-se em atender o seu desejo e não em agradar ao acionista. Faltou-lhe visão sistêmica, ou seja, estava mais preocupado com o departamento e menos com o empreendimento, comportando-se como criatura e não criador.   

Abel, entretanto, ofereceu o que tinha de melhor, física e espiritualmente, via adesão interna e aceitação total, demonstrando o compromisso com a aliança firmada no momento da contratação vitalícia, a qual eliminou a necessidade de previdência privada. Ele teve a capacidade e o dom de entregar a sua melhor ovelha, um símbolo de vida e sacrifício, materializando neste ato os valores do comprometimento: autoestima, empatia e afetividade. 

Passaram-se mais de dois mil anos e como as pessoas preferiram herdar a visão míope de Caim, o acionista enviou seu filho para sacrificar-se em prol da salvação do empreendimento. Isto gerou uma mudança radical na administração da terra, ao tornar as pessoas centro dos negócios, já que sob sua liderança passou a imperar a cooperação, igualdade, criatividade, humildade, sabedoria e perdão. 

Estes substantivos amparados pela graça, tornaram as obras mera consequência do trabalho, proporcionando igualdade de condições para todas as pessoas, independente do cargo, formação acadêmica, nível social ou poder financeiro. Uma pena que este tipo de empreendimento exista somente a base de milagres.