sábado, 2 de agosto de 2014

Copa do Mundo 2014, Brasil: Decime que se siente

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é uma entidade que gerencia a seleção nacional em competições organizadas pela CONMEBOL e FIFA. Dentro deste principio, ela montou uma equipe com um técnico e vinte e três operários da bola, capital humano que a Pluri Consultoria estimou em R$1,42 bilhão. Para oferecer adequadas condições de trabalho ela reformulou o corpo técnico, centro de treinamento, área de saúde e medicina ocupacional, bem como recebeu investimento externo para construção de estádios modernos.
 
O presidente e os diretores acreditaram que isto era suficiente para alcançar o resultado esperado, ou seja, o primeiro lugar na copa do mundo 2014 e a comemoração do hexacampeonato na pátria de chuteiras. Entretanto, no decorrer da disputa a seleção demonstrou problemas técnicos e táticos no sistema defensivo, entenda-se ataque, meio e defesa. Na marca do pênalti, venceu, mas não convenceu e na semifinal, uma humilhante goleada, jogou-a para escanteio. Neste caso, explicar o inexplicável é certamente mais fácil do que esquecer o mineirazo.
 
Em qualquer empreendimento, deve prevalecer o profissionalismo. Embora o ambiente de trabalho seja agradável, prazeroso e propício ao bom relacionamento, ele não pode ser tratado como uma família, porque deve ter um caráter impessoal no reconhecimento e na cobrança. Portanto, a seleção ao transmitir a idéia de família para uma equipe jovem, sem uma liderança expressiva, perdeu o lado profissional e ganhou um sentido pessoal. A confiança tornou-se o fator preponderante e assim, o erro excessivo tolerável e o choro repetitivo natural.
 
Privilegiar a confiança em detrimento da competência eis um erro cometido em muitas organizações e neste caso não foi diferente. Antes mesmo da convocação, o técnico deixou transparecer que a confiança era fundamental, independente de como o profissional poderia estar naquele momento. Assim, convocou atletas de rendimento, habilidade e preparo duvidosos, os quais comprometeram o desempenho da equipe. Para o povo brasileiro, acionistas da entidade, porém sem direito a voto, o resultado germânico não foi uma zebra.  
 
Os verdadeiros profissionais em qualquer organização suportam cobrança, frustação, cansaço, pressão e desânimo com maturidade, onde o choro torna-se mero detalhe emotivo. Então as lágrimas excessivas da equipe antes, durante e depois das disputas, demonstraram que faltou preparo psicológico. Entre profissionais muitíssimo bem cuidados e remunerados, este comportamento de baixa maturidade, sinal evidente de fraqueza e desequilíbrio emocional, receberia no mínimo um cartão amarelo, de modo a restabelecer o equilíbrio entre a razão e a emoção.   
 
As organizações, empresas e instituições competentes, lutam pela melhoria contínua. Desta maneira, procuram aperfeiçoar, inovar e mudar seus processos, métodos, técnicas e táticas de trabalho, especialmente em um universo globalizado. E a evolução no mundo futebol não foi diferente, ele se tornou veloz e variável. No entanto, a seleção verde e amarela não evoluiu técnica e taticamente, quanto seus adversários, ao utilizar um mesmo remédio para pacientes diferentes. Assim manteve um sistema defensivo debilitado, um ataque cardíaco fulminante e um olheiro cego.
 
Em um empreendimento bem administrado, a atividade fim, é o fator primordial e para ela são canalizados todos os recursos e esforços das áreas de apoio. Neste sentido todos buscam manter o foco na produção. Assim, também deve ser na gestão do futebol, o presidente, diretor, técnico e jogadores, focados no futebol. Porém, os jogadores estavam mais preocupados com a aparência física, direito de imagem e mídia, o que pode ter resultado em perda de concentração. A vaidade assumiu a condição de titular.
 
As organizações modernas buscam a sustentabilidade econômica, social e ambiental e tem estes princípios desenhados em seu planejamento estratégico. A CBF prometeu uma remuneração variável a cada vitória. Além disto, ela, os clubes e principalmente o governo investiram em estádios ecologicamente corretos, porém não apoiaram as categorias de base, ou seja, o desenvolvimento de atletas, fator de sucesso no longo prazo. Crianças e jovens foram esquecidos no banco de reservas e como a responsabilidade social não foi convocada, o resultado foi um gol contra.    
 
Não adianta escalar um time com técnico, auxiliar técnico, observador técnico, preparador físico, preparador de goleiros, supervisor, analista de desempenho, assessor de imprensa, fisioterapeuta, fisiologista, médico, psicóloga, nutricionista, massagista, roupeiro, hotel cinco estrelas, voos de primeira classe, centros de treinamentos e estádios modernos, se a satisfação, prazer e glória pela conquista estiverem em condição de impedimento devido aos interesses individuais, estes sim uma verdadeira pisada de bola.
 
O planejamento e profissionalismo receberam da CBF um cartão vermelho e pelos fatos terem sido registrados na súmula da incompetência, talvez nem sejam convocados na copa de 2018. Nos próximos anos, assistiremos da arquibancada o jogo do poder e dificilmente um juiz expulsará aqueles que cometem faltas desleais, passam rasteira, dão carrinho, entram de sola ou pé alto na magia, arte, criatividade, talento, habilidade, técnica e tática do futebol bola cheia. Dentro das quatro linhas, tradição e peso da camisa, não ganham jogo, que diga o maracanazo.