A
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é uma entidade que gerencia a seleção nacional em competições organizadas pela CONMEBOL e FIFA. Dentro deste
principio, ela montou uma equipe com um técnico e vinte e três operários da
bola, capital humano que a Pluri Consultoria estimou em R$1,42 bilhão. Para oferecer
adequadas condições de trabalho ela reformulou o corpo técnico, centro de
treinamento, área de saúde e medicina ocupacional, bem como recebeu
investimento externo para construção de estádios modernos.
O
presidente e os diretores acreditaram que isto era suficiente para alcançar o
resultado esperado, ou seja, o primeiro lugar na copa do mundo 2014 e a
comemoração do hexacampeonato na pátria de chuteiras. Entretanto, no decorrer
da disputa a seleção demonstrou problemas técnicos e táticos no sistema
defensivo, entenda-se ataque, meio e defesa. Na marca do pênalti, venceu, mas não
convenceu e na semifinal, uma humilhante goleada, jogou-a para escanteio. Neste
caso, explicar o inexplicável é certamente mais fácil do que esquecer o mineirazo.
Em
qualquer empreendimento, deve prevalecer o profissionalismo. Embora o ambiente
de trabalho seja agradável, prazeroso e propício ao bom relacionamento, ele não
pode ser tratado como uma família, porque deve ter um caráter impessoal no
reconhecimento e na cobrança. Portanto, a seleção ao transmitir a idéia de
família para uma equipe jovem, sem uma liderança expressiva, perdeu o lado profissional
e ganhou um sentido pessoal. A confiança tornou-se o fator preponderante e
assim, o erro excessivo tolerável e o choro repetitivo natural.
Privilegiar
a confiança em detrimento da competência eis um erro cometido em muitas
organizações e neste caso não foi diferente. Antes mesmo da convocação, o
técnico deixou transparecer que a confiança era fundamental, independente de
como o profissional poderia estar naquele momento. Assim, convocou atletas de rendimento,
habilidade e preparo duvidosos, os quais comprometeram o desempenho da equipe. Para
o povo brasileiro, acionistas da entidade, porém sem direito a voto, o resultado germânico não foi uma
zebra.
Os
verdadeiros profissionais em qualquer organização suportam cobrança, frustação,
cansaço, pressão e desânimo com maturidade, onde o choro torna-se mero detalhe
emotivo. Então as lágrimas excessivas da equipe antes, durante e depois das
disputas, demonstraram que faltou preparo psicológico. Entre profissionais
muitíssimo bem cuidados e remunerados, este comportamento de baixa maturidade,
sinal evidente de fraqueza e desequilíbrio emocional, receberia no mínimo um
cartão amarelo, de modo a restabelecer o equilíbrio entre a razão e a emoção.
As
organizações, empresas e instituições competentes, lutam pela melhoria
contínua. Desta maneira, procuram aperfeiçoar, inovar e mudar seus processos,
métodos, técnicas e táticas de trabalho, especialmente em um universo
globalizado. E a evolução no mundo futebol não foi diferente, ele se tornou veloz e
variável. No entanto, a seleção verde e amarela não evoluiu técnica e
taticamente, quanto seus adversários, ao utilizar um mesmo remédio para
pacientes diferentes. Assim manteve um sistema defensivo debilitado, um ataque
cardíaco fulminante e um olheiro cego.
Em
um empreendimento bem administrado, a atividade fim, é o fator primordial e
para ela são canalizados todos os recursos e esforços das áreas de apoio. Neste
sentido todos buscam manter o foco na produção. Assim, também deve ser na
gestão do futebol, o presidente, diretor, técnico e jogadores, focados no
futebol. Porém, os jogadores estavam mais preocupados com a aparência física, direito
de imagem e mídia, o que pode ter resultado em perda de concentração. A vaidade
assumiu a condição de titular.
As
organizações modernas buscam a sustentabilidade econômica, social e ambiental e
tem estes princípios desenhados em seu planejamento estratégico. A CBF prometeu
uma remuneração variável a cada vitória. Além disto, ela, os clubes e principalmente
o governo investiram em estádios ecologicamente corretos, porém não apoiaram as
categorias de base, ou seja, o desenvolvimento de atletas, fator de sucesso no longo
prazo. Crianças e jovens foram esquecidos no banco de reservas e como a
responsabilidade social não foi convocada, o resultado foi um gol contra.
Não
adianta escalar um time com técnico, auxiliar técnico, observador técnico, preparador
físico, preparador de goleiros, supervisor, analista de desempenho, assessor de
imprensa, fisioterapeuta, fisiologista, médico, psicóloga, nutricionista,
massagista, roupeiro, hotel cinco estrelas, voos de primeira classe, centros de
treinamentos e estádios modernos, se a satisfação, prazer e glória pela
conquista estiverem em condição de impedimento devido aos interesses
individuais, estes sim uma verdadeira pisada de bola.
O
planejamento e profissionalismo receberam da CBF um cartão vermelho e pelos
fatos terem sido registrados na súmula da incompetência, talvez nem sejam
convocados na copa de 2018. Nos próximos anos, assistiremos da arquibancada o
jogo do poder e dificilmente um juiz expulsará aqueles que cometem faltas
desleais, passam rasteira, dão carrinho, entram de sola ou pé alto na magia, arte,
criatividade, talento, habilidade, técnica e tática do futebol bola cheia. Dentro das quatro linhas,
tradição e peso da camisa, não ganham jogo, que diga o maracanazo.