sábado, 23 de novembro de 2013

Família Real

A luta pela sobrevivência e propagação da espécie conduz o homem a buscar no mercado, às vezes paralelo, inúmeros Beija-flores, mais precisamente da espécie Amazilia lactea, que poderão indiretamente saciar a fome. Como nesta etapa da vida pessoal e profissional, não há muita preocupação com bens materiais, ele contenta-se em amealhar esse pequeno e delicado ser de coloração discreta, pois qualquer nota de um real faz a diferença. Assim sem muita ambição ele busca fugir da gaiola do emprego informal. 
 
Uma vez atendida às necessidades básicas, o homem sem oferecer gorjeta inicia a substituição dessa ave por um anfíbio de corpo robusto e longevo. Nesta incansável batalha pela mudança de posição social, por meio de um bom cargo, o homem busca a tartaruga-de-pente, para melhorar o padrão de vida. Nesta caça desenfreada, às vezes ilegal, Eretmochelys imbricata, torna-se criticamente ameaçada quando o homem oferece como troco a mesquinharia, que racha o casco do proposito que o dinheiro possa gerar.  
 
A ânsia cada vez mais acentuada pelo consumo fútil induz o homem a dar passos largos para alcançar um bando de garças, que se caracterizam por serem aves pernaltas. Entre passos e descompassos, as gananciosas mãos humanas mancham a brancura das penas destes ardeídeos, quando elas utilizam notas de cinco reais de forma egoísta ou fraudulenta. Neste contexto, exemplares de Casmerodius albus, são guardados em caixa dois, protegidos da mordida do leão e depois lavados para circularem livremente.
 
Ao pressentir que as suas vaidades não conseguem ser alimentadas por beija-flores, tartarugas e garças, o homem parte em busca das araras vermelhas, aves típicas da fauna brasileira e sul-americana. Assim, elas tornam-se um alvo perfeito para elevar o homem a voos mais altos, rumo ao topo. Engasgado com as sementes e frutos podres da ganancia pelo poder, o homem relega o ninho familiar, depreciando qualquer nota de dez e depenando de vez Ara chloreptera, impedindo-a de oferecer um valor real ao trabalho.
 
A ambição desmedida pelo dinheiro em plena selva de pedra faz o homem encontrar jeitos rápidos e fáceis de substituir araras por micos-leões-dourados, primatas de pelagem alaranjada e juba característica. Assim, Leonthopitecus rosalia, sofre grave ameaça de extinção, porque o homem oferece uma banana para a honestidade, ética e respeito, matando de inanição qualquer valor virtuoso. Preso na grade de servidão materialista, ele é alimentado por uns poucos vinte reais de ilusão, concedidos pela mais valia. 
 
Após pagar micos pela sua frieza, soberba e prepotência, o homem parte atrás de um felino em extinção e amplamente conhecido daqueles ávidos por dinheiro, a onça pintada. Mais difícil de ser perseguida e alcançada, a Panthera onca induz o homem a ficar preso na mandíbula do trabalho exaustivo e estressante. Este desequilíbrio passa a ameaçar a estabilidade emocional do bicho homem, afetando sua saúde física e mental. Pintas de arrependimento logo são apagadas das lembranças pelas notas de cinquenta reais.  
 
Finalmente o homem chega ao topo do poder e torna-se um hábil pescador de garoupas, peixe marinho que dificilmente anda em cardume. Enquanto esta espécie, Epinephelus marginatus, habita as costas brasileiras, o homem vira as costas para os amigos e a família, fazendo com que as notas de cem reais percam as escamas do bem estar. Nesta maré desequilibrada, a piracuca torna-se apenas um peixe fora d’agua para o predador das relações humanas.
 
Assim, a casa da moeda perde as telhas do equilíbrio, o banco central perde as tábuas do bom senso e a efigie da república presente em todo o reverso deste círculo financeiro, perde os cabelos esvoaçantes, os ramos de louro e a serenidade da face. É o divórcio da família real.

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